quinta-feira, 7 de maio de 2009

Wittgenstein! no Como Chama Isso?


Anteontem, fui ao Cine Teatro Ouro Verde assistir a peça Wittgenstein! (com exclamação mesmo). Assistir seria de veras pouco. Na verdade, contemplei.

Escrevendo de maneira retrospectiva, saí de casa meio desanimado, meio sem querer deixar a minha melancolia tomar um pouco de ar. Já pensei no ônibus, na minha dificuldade de encontrar as ruas em Londrina, mesmo as mais banais. Mas aqui em casa sempre tem a campanha “Vai dar uma volta Douglas” encabeçada pela minha irmã. Logo brotaram alguns prós que levantaram-me da letargia que tomava minha existência, mais especificamente, foram dois: o convite de ir tomar um sorvete na Higienópolis e uma carona até o Ouro Verde.

Depois dos prós concretizados, e devidamente orientado, estacionei em frente ao Cine com quase uma hora de antecedência. A vantagem é que o quanto antes chegamos, mais tempo temos para discutir algumas coisas com alguns queridos amigos. Nesse ritmo, encontrei alguns professores e amigos, o que sempre é garantia de uma boa conversa.

Faltando alguns 15 minutos para o início da peça fomos convidados a entrar e sentar. Não nas almofadadas e longínquas poltronas, mas no próprio palco. De fato, comecei a perceber porque tratava-se de uma peça intimista. No começo a divulgação de praxe da semana, datas e horas, e uma explicação rápida do porque começar um evento sobre linguagem com uma apresentação artística. Minha memória é ruim, mas lembro de ter ouvido um argumento plausível, nada que pudesse abalar um axioma e provocar uma reação em cadeia destrutiva. Mas vamos a peça.

A obra é encenada pelo ótimo ator Jairo Arco e Flexa, que dá vida a ninguém menos que Wittgenstein, o autor responsável (não culpado) pela virada lingüística na filosofia[1]. O texto além de extenso, é complexo, em outras palavras, recheado de informações das duas obras do filósofo, a saber, Tractatus Logico-Philosophicus e Investigações Filosóficas. Quero destacar aqui três momentos marcantes da peça, pelo menos para mim:

1) A família de Wittgenstein não enfrentava dificuldades econômicas. Outrossim, eram admiradores e famosos por fomentar as belas artes. O pai de Ludwig era um rico industrial, dedicado a amparar novos artistas, como pintores, músicos, etc. Quando, nos jantares proporcionados pela família Witt., aparecia a aborrecida e controversa figura de Johannes Brahms (a casa era bem freqüentada, eu disse), a cortês despedida dos nobres tomava um novo tom. Onde deveria reinar a realeza travestida da mais elegante etiqueta, ouvia-se em alto e bom som: “Senhores e senhoras, se caso esqueci de ofender alguém, aceitem minhas mais sinceras desculpas”.

2) O momento em que recebe o convite de Schlick para visitar o Círculo de Viena, entorpecido pelo seu Tractatus. Apesar de relutante e indisposto a fazer parte do seleto grupo de pensadores, atende ao pedido de seu amigo Schlick, pelo qual nutria extremo respeito e admiração. Na esperança de ouvir o filósofo que quis colocar ordem no mundo, todos os integrantes sentaram-se em círculo (isso não é uma ironia) esperando pela fala de Wittgenstein. Mas, ao contrário do que esperavam, o que ouviram foi a poesia de um indiano [2], muito em voga naquela época em Cambridge. A descrição da ousadia, e conseqüentemente, a expressão dos filósofos positivistas foi hilária. Muito engraçada.

3) A narrativa da morte de Moritz Schlick foi emocionante. O susto do disparo em som alto, extremamente bem sacado, levou a diminuta platéia a sentir a surpresa impactante da morte do professor, por um aluno “mentalmente desiquilibrado”.

Ainda houve outros momentos interessantes, perturbadores, engraçados, etc. Mas como escrevo mal e você conseguiu chegar até aqui, devo presenteá-lo com o final das descrições de mais cenas. Concluindo, ao final do espetáculo, ainda deu tempo de bater um papo com mais uns amigos e sentir um pouco do frio da noite londrinense, aquele ar que entorpece os pulmões (saudades do ventoso frio da minha Pasárgada, Itu). Abraços a todos (nenhum) leitores.


[1] Detalhe para o meu limitado conhecimento em Filosofia da Linguagem.

[2] Não me lembro do nome.

Referências sobre o ótimo evento:

Agência UEL

Blog Oficial Do Evento

Enquanto escrevia, ouvia:

Björk - Human Behaviour

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