sábado, 27 de junho de 2009

O espirro da mula

A mais de duas semanas não escrevo nada. E como sei que escrever é treino, muito mais que talento, esse texto vai “na marra”, sem uma gota de lubrificante. Não estranhem se descer suave, como um gato vivo na garganta.

Eu estou morando, agora, em um apartamento para lá de desconfortável. Para ajeitar as coisas por aqui, se é que isso é possível, nós vamos mudando as coisas de lugar. Uma hora o sofá está aqui, outra no quarto de alguém, depois a geladeira vai dançando tango de uma parede para a outra, acompanhada do fogão, ironicamente, um modelo Bossa Nova. Faz jus ao seu nome; fogo lento, um tempo de jogo para fritar cada lado de um bife. Na próxima, compramos um modelo Baião ou Xaxado, no mínimo. E mudamos para uma casa normal, onde nunca mais seja necessário jogar xadrez com os móveis.

Mas esse não é um tópico Casas Bahia. Esse é um tópico mal-humorado e sem o menor otimismo. A não ser pela Influenza H1N1, fazendo reboliço no campus. Hahahá, agora sinto-me incluído, personagem ativo nos programas de proteção nacional. Bacana, não? E como. Não sou neurótico por segurança, mas moro em um lugar tão violento, que se acontecer um barulho perto de você, não é uma anjo chegando para receber suas orações e levá-las a Deus. É ladrão mesmo. Agora, é só aproveitar a onda de atenção e carinho.

Esse vírus é um sujeito bacana, já chegou dando férias antecipadas. Tem gente fingindo febre, simulando dores no corpo e com tosse só de falar na volta às aulas. Preguiça é mais contagiante que gripe, pode apostar. Essa pandemia veio é do Céu. Estrategicamente no final de Junho, no melhor estilo “pula fogueira ia-iá”, recebeu mais prece que São João, São José e Santo Antônio juntos. Melhor que casar, é ficar de molho em casa, só assistindo sessão da tarde com pipoca e refrigerante. Incubando ócio. Mas não vou idolatrar isso não. Prefiro é faltar às aulas por vontade própria, alimentando assim, meu lado transgressor. Esse é um post aborrecido e não abro mão. O único lugar descontaminado vai ser o CCH, porque nem vírus aguenta, hahahá.

E tenho a maior fé que depois das férias eu vou melhorar meu ânimo. Depois de descobrir, sem querer, o milagre da mula, resolvi reconsiderar meus conceitos. Vocês conhecem o milagre? Lá, vai. Em uma tarde quente de Janeiro (isso eu inventei), Santo Antônio pregava para uma multidão de fiéis, imagino eu, quando repentinamente surge a figura de um infiel. O incrédulo, desafiou a santidade do corpo de Cristo encarnado na hóstia e, furiosamente (disseram para mim), travou uma aposta com Antônio, dizendo: Se isto for o alimento da alma, o corpo de Cristo, qualquer ser vivente pode reconhecê-lo como tal, então, trago amanhã minha mula para apreciar tal graça. A platéia silenciou, todos se entreolharam, aflitos com as consequências do discurso. Mas Antônio, com aquela calma que só o desespero traz, estendeu a mão para o homem, selando assim a aposta. Não se falava sobre mais nada na cidade, além da “peleja da mula com Antônio”. Na manhã do outro dia, Antônio, que de santo ainda não tinha nada, foi para a praça, esperar seu algoz. Eis que vinte minutos depois, sob fortes vaias, aparece o homem e sua mula. Antônio, encara, a mula. Ela, não diz nada. Começa a celebração.

Logo depois da oferta (rateio das apostas, na ocasião), Antônio inicia o ritual supremo da Igreja, e vira-se especialmente na direção da mula. Ela, comovida (fiquei sabendo), dobrou o joelho das duas patas dianteiras e abaixou a cabeça em respeito a hóstia consagrada. A platéia foi ao delírio, e o homem pasmado, caiu em prantos, louvando o senhor nas alturas.

Como não sou moco, melhor assim, ouvi toda a história calado, sem reclamar ou desacreditar. Afinal, o homem desafiou o poder de Deus e o que obteve em troca? Arrependimento, vergonha, uma mula constrangida por seu dono e, com dores nas juntas. O que aprendi? Depois da primeira mula ajoelhada, o resto foi atrás. Hahahá, esse é um post cretino e eu tinha advertido desde o início. Nada de colocar meu nome na boca do sapo.

Quero ver é encontrar o corpo do Ulisses Guimarães, o Sarney abandonar o cargo, o Irã ter liberdade de expressão garantida pela constituição e o Minc parar de achincalhar os latifundiários. No Brasil, fazer mula ficar de joelho é fácil. Não duvido que já tem mula de joelhos por ato secreto. Quero ver é me animar para escrever meu TCC. Agora, reconstituir amputado, saiu da minha lista de milagres impossíveis. O Simão conseguiu. Provas? Assistam “Simão Do Deserto” do Buñuel. O R. R. Soares assistiu. Ficou enciumado, esse milagre ainda não fez, ficou mordido de inveja. Hahahá. Simão 1 x 0 R. R. Soares.

O que nos resta? Esperar segunda-feira e torcer para a vitória do vírus. Minhas férias antecipadas serão altamente “influenziadas” por ele . No mais, estou indo embora.

Ps: O texto foi editado por que eu troquei Antônio por João, algumas vezes, no "causo" da mula. Castigo? Nada, desatenção mesmo. Desculpa o trantorno.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A verdade, meu amor, mora num poço...

Eu não havia me tocado (antes eu, que outros não?), de como posso perder algo grandioso esse ano. Agora que tomei para mim a ideia de que não irei me formar nesse semestre, que já chega, percebi que irei perder, além de um ano de estudos, a colação de grau com meus amigos. Amigos mesmo, não colegas de sala. Estou muito feliz, na certeza que muitos daqueles que sentaram ao meu lado, por esses quatro anos, irão ser grandes professores, se assim o quiserem. Também contente, pelo fechamento de um ciclo em seu tempo perfeito, como proposto pelo curso, isto é, a formação de um aluno-filósofo em quatro anos. Pena eu não conseguir essa façanha.

Esse sopro provocativo, veio em uma conversa notívaga, com minha irmã. Não tinha pensado nisso. Agora, fiquei martelando isso em minha mente, com uma tristeza insistente, que antes não existia. Como pude me descuidar. Não subirei ao púlpito, se houver um, para triunfante, comemorar a conclusão das famigeradas 2.852 horas de formação acadêmica filosófica. Pena.

Com dor no coração, sem ser pelo péssimo estilo de vida, caminhemos ao ponto central do problema: com quem irei debater as provas da existência de Deus, se não com meu estimado amigo, Alison? E quando as dúvidas sobre Schopenhauer abaterem, sobre minha debilitada vontade, onde estará Renata? Pior, em que ocasião, senão a dos intervalos e tempos livres na UEL, poderei aprender sobre os deveres de uma postura liberal e, conseqüentemente seus benefícios, sem o provocativo Ralph? A isso, soma-se a união, quase que tribal, entre kantianos e berkleyanos, sempre dispostos a defender os bons raciocínios filosóficos. Puxa, que falta isso irá me fazer... Isso, porque não citei outros grandes amigos, com outras grandiosas concepções de mundo, sempre ensinando-me algo surpreendente.

O que acalenta meu pesar, mesmo nadando contra a corrente do tempo, é a esperança de que não percamos contato. Gostaria mesmo que isso não acontecesse. Ganhei tanto com essas pessoas, e em troca, apenas contei algumas piadas velhas, já carcomidas pelo tempo. Ah esse tempo...


Enquanto escrevia, ouvia: