sábado, 17 de setembro de 2011

Da série - Labuta Trabalhosa

Revista Brasileira de Profissões Nº23

Por Cassianta Verdade - 17/09/1988


Qual o nome do senhor?
João Manoel Machado.
Qual a sua profissão Sr. João?
Coveiro de múmia.
Quantas múmias o senhor já enterrou?
Olha, se eu disser que foram duas eu estou mentindo pra senhora. Na verdade foi nenhuma.
O senhor já viu uma múmia?
Dessas que tem na televisão cheio de fracha e que anda retinha com os braço estendido já!
Mas aqui no cemitério nunca?
Das de fracha nunca.
E de outro tipo?
Também não.
O senhor trabalha há quanto tempo como coveiro de múmia?
Desde que eu parei com a fábrica. Vai fazer é uns trinta ano.
E nunca enterrou nada?
Costumo dizer que já cavei buraco pra véia mais véia que múmia... (risos). Mais das de fracha nunca.
Como o senhor foi convidado para trabalhar?
Na fábrica eu mexia com argodão, tecido... Dá um dia e o prefeito me olha trabaiando e pede pra eu ser coveiro.
Assim de repente?
Deve de tê visto um talento natural.
Para coveiro de múmia?
É que eu mexia com argodão.
Desde o início o senhor sabia que era para múmia?
Não... Fora mi falá depois de treis ano, mais ou menos...
E o que fez esse período de tempo?
Treinamento.
Como?
De coveiro.
Mas como o senhor treinou para ser coveiro de múmia?
Com o dom que eu já tinha, foi só aprender a bater o enxadão...
Mas o senhor não acha muito tempo três anos para aprender a usar uma ferramenta?
Tinha que sabe direito, senão suja todas fracha da múmia de terra...
Então o senhor não teve professor?
Nunca.
E como sabe que está fazendo o trabalho da forma correta?
Nenhuma delas nunca recramou... (risos)
Mas o senhor nunca enterrou nenhuma!?
Aqui no cemitério do município nunca.
E em outro lugar?
Também não.
E se um dia acontecer de aparecer uma múmia?
É que a gente que tem treinamento não ficaria surpreso, vai é logo tratando de enterrá...
Qual seria o procedimento?
Pega a múmia com cuidado, de modo a não desenrola as fracha. Joga ela no buraco e tampar com terra.
Parece simples, o senhor não acha?
Muito sabe quem nada faiz...
Sr. João, para encerrarmos nossa conversa, o que o senhor pensa sobre o seu trabalho?
Sabe moça, tem gente que diz que minha profissão não tem valia. Que espera devidamente registrado, e com direito a cesta básica é gasto ocioso do município. Eu já acho que é inveja desse povo que não tem inteligência de notá que se aparece por aqui uma múmia é necessário que se tenha um funcionário responsave... É por isso que o prefeito me deu esse celular. Caso ocorra uma emergência e a múmia passe da hora de ser enterrada...

P.S.: A construção das personagens e suas falas foram fruto de minha imaginação. Sem o menor cuidado com a verossimilhança antropológica de nada.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Post Rápido

Com uma única piada José Simão conseguiu traduzir o espírito dessas eleições: Quem não for batizado pode votar? Abraço.

Um post para dormir mais tarde

Estava com título e texto prontos quando descobri, tardiamente, uma senhora chamada Ayn Rand. Então, adiei as piadas e comentários ginasianos para postar uma entrevista de fazer perder o sono. Como posso convencê-los a assistir as três partes? Abaixo, trechos da primeira parte da conversa. Abraço.

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Mike Wallace: "...a resenha diz que você pretende destruir praticamente todas as bases do "American way of life" contemporâneo, nossa religiosidade judaico cristã, nosso capitalismo regulado pelo Estado, o fato de sermos governados pela vontade da maioria. Outras resenhas declaram que você debocha da igreja e do conceito de Deus. Essas declarações são corretas?

Ayn Rand: Sim. Eu concordo com os fatos, mas não com o julgamento dessas declarações. Se de fato questiono as bases dessas instituições, é porque questiono a moral altruísta, o pressuposto de que o dever moral do homem é viver pelos outros, sacrificar a si mesmo pelos outros - o que representa a moral vigente atualmente.

Mike Wallace: O que você quer dizer com "sacrificar a si mesmo"?... Você diz não gostar do altruísmo segundo o qual nós vivemos. Você prefere um tipo de egoísmo "randista"...

Ayn Rand: Dizer que eu não gosto é muito pouco. Para mim isso é perverso. E o auto-sacrifício é um conceito segundo o qual o homem deve servir aos outros para justificar sua existência, e que isso é seu dever moral. É nisso que a maioria das pessoas acredita atualmente.

Mike Wallace: Mas é claro, aprendemos a nos preocupar com nossos semelhantes, nós nos sentimos responsáveis por seu bem estar, e sentimos que, como dizem os religiosos, filhos de Deus e responsáveis uns pelos outros. Por que se rebela? O que há de errado com essa filosofia?

Ayn Rand: Mas é exatamente isso que faz com que o homem sacrifique a si mesmo, a noção de que ele precisa trabalhar pelos outros, preocupar-se com os outros e ser responsável por eles. Esse é o papel de um objeto sacrificial. Eu digo que todo homem tem direito a sua própria felicidade. E que ele deve conquistá-la sozinho. Mas ele não pode exigir que os outros abram mão de suas vidas para fazê-lo feliz. E ele nem deve querer sacrificar a si mesmo pela felicidade alheia. Eu defendo que o homem deve ter autoestima.


Mike Wallace: E ele não pode ter autoestima e também amar seu semelhante? O que há de errado em amar seu semelhante? (...)

Ayn Rand: É imoral se colocado antes do amor por si mesmo. Mais que imoral é impossível. Pois amar a todos indiscriminadamente, significa amar as pessoas sem qualquer critério, amá-las mesmo que elas não tenham qualquer valor ou virtude. Significa amar a ninguém.

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Ps: Mal posso esperar para que o meu "A Revolta De Atlas" chegue. A entrevista legendada encontrei no site da editora Sextante.

domingo, 19 de setembro de 2010

The Atheist Experience

Parte I


Parte II



Bacana, não? Maiores informações sobre o programa podem ser vistas aqui. Textos maiores que escreverei? Na próxima semana, eu garanto.

domingo, 6 de junho de 2010

Atirou no que não viu e... acertou!

Domingo, 8:30 a.m e eu leio a seguinte notícia na Folha.com: "Marido mata mulher ao confundi-la com onça durante pescaria em Mato Grosso". O que eu pensei quando li? Não necessariamente nessa mesma ordem:

i) Não posso culpá-lo.

ii) E quem nunca confundiu, que atire a primeira pedra!

iii) É que ele não conhece a minha.

iv) Fale a verdade homem, assuma seu crime!

v) Se a desculpa funcionar, o que vai ter de onça aparecendo por aí...

vi) Semelhança com Anta também vale? E uma vaga lembrança...?

vii) Marido: - Não percebi, quando a vi, já estava no chão com uma camiseta amarela, shorts rosa e tênis laranja. Praticamente camuflada...

viii) Em casa, quem mata se desconfiar de alguma coisa é a onça. Se é que me entedem...

ix) Segundo apurado, é muito comum na região onças ficarem na cozinha, preparando o almoço e cantando junto com o rádio. A confusão era eminente.

x) Tem onça em Itu? Serve Capivara?

xi) Onça boa é onça morta!

xii) O crime é matar animal silvestre, não é?

xiii) Em depoimento ao delegado, Onça admite emocionada: -"Eu sabia de tudo. Fui usada como desculpa, mas ele disse que me amava. Me sinto um animal, um tapete velho".

xiv) Onça passa bem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Maquiavel e a mulher mais feia do mundo

Nesses dias que precedem a volta a árdua tarefa de me distanciar de casa, resolvo compartilhar um bom texto, garimpado a meses atrás, na boa revista Piauí. A quem ler o blog, não ficar bravo com esse humilde graduando, tão pouco produtivo. Não vou mais sentir o cheiro do café da minha mãe; voltarei a rotina de cafés insosos da lachonete do campus e reclamações de todos os tipos, sobre a vida sofrida que temos.

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" ... Na primavera de 1509, Maquiavel recebeu uma missão de courier e de agente de informação. Estava em Florença quando o mandaram pegar dois cavalos e partir a galope para Mântua, na Lombardia, a fim de entregar ao imperador Maximiliano a segunda parcela dos 40 mil florins que os florentinos lhe haviam prometido durante a conquista da cidade de Pisa. Chegou, pagou a áurea soma e circunstâncias fortuitas o levaram um pouco acima, a Verona, de onde teria que enviar informes sobre a guerra - mas não havia guerra.

Sem ter o que fazer, escreveu, copiosamente, conselhos às autoridades florentinas e cartas aos amigos. Em meio ao tédio, esboçou um negócio com economias feitas durante a viagem: montar uma granja. Pediu ao amigo Luigi Guicciardini para propor a um tal de Piero di Martino que tomasse conta das futuras galinhas. Apesar da modorra, estava de bom humor. Havia recebido uma carta na qual Luigi lhe revelava uma aventura amorosa e confessava um "imenso desejo" de rever uma "bela senhora".

Em resposta, Maquiavel lhe descreveu a passagem inconfessável que teve em Verona. Como estava em "carência conjugal", acabou aceitando o convite de uma "velha tratante" que lhe lavava a roupa. A "velha tratante" tanto fez que o convenceu a ver uma "certa camisa" que queria que ele provasse.

O relato é tão escalafobético que, repito, alguns maquiavelistas levantam dúvida sobre sua veracidade. Roberto Ridolfi, autor da mais famosa biografia do florentino, afirma que é "provavelmente verdadeiro". E racionaliza: "A descrição dos detalhes é forçada demais para ser verossímil, demasiado realista para ser real."

Apesar disso, Ridolfi não transcreveu a carta em seu livro. Só a última biografia, de Michael White (2007), traz um bom pedaço da carta. Outros biógrafos comentam a existência do relato.

Os detalhes do acontecido falam por si. Se você é uma pessoa sensível, não prossiga. Eis então a carta de Maquiavel para Luigi Guicciardini em resposta àquela na qual o amigo confessa desejar reencontrar uma bela senhora:

Admira-te, Luigi, e veja quanto a Fortuna dá ao homem diversos fins para um único motivo. Você a fodeu, teve a vontade de refodê-la e ainda tentou de novo. Mas eu fiquei aqui vários dias, cego pela carência conjugal, quando encontrei uma velha que me lavava as camisas, que mora em uma casa meio subterrânea onde não se vê a luz senão pela porta: e eu estava passando um dia por lá, ela me reconheceu e me fez uma grande festa, me pediu que lhe desse o prazer de ir à sua casa, com a desculpa de me mostrar umas camisas bonitas como se eu as quisesse.

Uma vez lá dentro, distingui na escuridão uma mulher agachada num canto, exalando modéstia com uma toalha cobrindo a cabeça e o rosto. Aquela velha tratante me tomou pela mão, me mostrou a mulher e me disse:

- Essa é a camisa que eu quero vender, mas queria que você a provasse antes e depois você a paga. Eu, cauteloso que sou, senti-me bastante amedrontado; porém, ficando a sós com a tal e no escuro (já que a velha saiu logo da casa, fechando a porta), para encurtar a história, sozinho com ela naquele breu, eu a fodi de um só golpe. Embora sentisse as suas coxas um pouco moles e a sua xoxota desanimada - e o seu hálito era um pouco fedido -, ainda assim, excitado como estava, fui aos finalmentes com ela.

Tendo terminado, e com vontade de dar uma olhada na mercadoria, peguei um pedaço de madeira da lareira do quarto e o acendi, mas quase deixei cair das minhas mãos antes que se apagasse. Urgh! Quase caí morto com aquele borrão da visão, aquela mulher tão feia. A primeira coisa que notei nela foi um tufo de cabelo metade branco, metade preto - em outras palavras, esbranquiçado. Embora o topo de sua cabeça fosse careca (graças à calvície, era possível perscrutar alguns piolhos passeando por ali), alguns poucos e finos fios de cabelo desciam até a fronte. No meio de sua cabeça pequena e enrugada, ela tinha uma cicatriz de queimadura que fazia parecer como se tivesse recebido uma marca no mercado; na ponta de cada sobrancelha, em direção aos olhos, havia um aglomerado de lêndeas; um olho olhava para cima, o outro para baixo - e um era maior; seus dutos de lágrimas estavam cheios de remela e ela não tinha cílios. Tinha um nariz arrebitado incrustado baixo demais no rosto e uma das narinas estava cortada e cheia de ranho. Sua boca parecia a de Lorenzo de Médici, mas era torta para um lado, e desse lado escorria uma baba porque, não tendo nenhum dente, ela não podia conter a saliva. Seu lábio superior servia de apoio para um longo e ralo bigode. Ela tinha um queixo longo e pontiagudo um pouco virado para cima; uma papada levemente peluda balançava até seu pomo de adão.

Enquanto fiquei ali absolutamente desconcertado e estupefato olhando aquele monstro, ela tomou consciência disso e tentou perguntar "Qual é o problema, senhor?", mas não conseguiu porque gaguejou. Assim que abriu a boca, ela expeliu um tal fedor em seu hálito que meus olhos e meu nariz - portais vizinhos para o mais delicado dos sentidos - se sentiram assaltados por ele e meu estômago ficou tão indignado que foi incapaz de tolerar esse ultraje; começou a se rebelar, e então se rebelou - de modo que vomitei em cima dela. Tendo-a ressarcido em espécie, parti. E juro por todos os céus que, enquanto estiver na Lombardia, podem me condenar ao Inferno se pensar em voltar a ficar excitado; e se você agradecer a Deus por eu ter encontrado tanta diversão eu agradeço a Ele por perder o medo de não ter mais tanto desprazer.

Creio que levarei desta viagem algum dinheiro e verei quando chegar a Florença se começo algum negócio. Pretendo montar um galinheiro, preciso encontrar alguém que o administre: acredito que Piero di Martino seja suficiente; fale com ele se quer ser o chefe e responda-me, porque se ele não o quiser eu vou procurar outro.

Das novidades daqui Giovanni as relatará. Lembranças e recomendações a Jacopo, e não se esqueça de Marco.

Em Verona, 8 de dezembro de 1509.

Espero a resposta de Gualtieri sobre minha história comprida e inverossímil.


A tradução da carta para o português vem de várias fontes. Usei o trecho que aparece no livro de Michael White (Maquiavel, um Homem Incompreendido), outro de Maurizio Viroli (O Sorriso de Nicolau: História de Maquiavel) e, para o restante da carta e outras expressões dos originais de Maquiavel, tive a ajuda de Lulla Gancia".


Importante: Esse texto foi editado por mim. O artigo completo foi publicado na revista Piauí e escrito por Caio Túlio Costa, com o título "Maquiavel e a mulher mais feia do mundo". Apesar de suas generalizações e banalidades filosóficas, faz rir a qualquer indivíduo com boa imaginação.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Rápida (diretamente de Itu)

Enquanto caminhava pelas estreitas ruas de minha Pasárgada, uma senhora de boné e prancheta na mão perguntou, com cara de quem ia me roubar tempo:

- Em quem o senhor votaria para presidente da república: José Serra ou Dilma Rousseff?

Apavorado e, seguindo a voz do coração, respondi:


- Soltem Barrabás!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Rápida

André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul, chamou Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, de veado. Além disso, ainda "fuma maconha". Imagine-mos agora, só por um instante, Puccinelli bêbado, referindo-se ao ministério de Gilberto Gil. Ainda bem que ninguém gravou.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

De vez em vez, as linhas enchem o papo!

“As pessoas tem que acreditar
em forças invisíveis para fazer o bem
tudo o que se vê não é suficiente
e a gente sempre invoca o nome de alguém”
(John, do Pato Fu)

Uma vez, Salvador Dalí mandou um bilhete para os Estados Unidos. Era endereçado a Alexander Calder, e dizia: “O mínimo que se exige de uma escultura é que ela não se mova”. Uma vez, na Espanha, aconteceu um sarau com figurões da nossa música popular e alguns outros intelectuais, em especial, João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes. O segundo só fazia cantigas sobre amor, para o amor e por causa do amor. O primeiro então interrompe o segundo, entre uma de muitas canções, e diz: “Você não sabe cantar com outra entranha que não seja o coração?”. Uma vez meu pai foi caçar. Junto com ele estavam seus tios e cachorros perdigueiros, entre eles, o mais feroz e astuto, Sultão. Como líder da matilha, avançou mata adentro. Mas logo voltou, mancando. Quando ergueram sua pata traseira, retiraram um grande espinho. Depois disso, Sultão não quis voltar a caçar, uivando de dor, apoiado em três pés. Atrapalhando a caminhada no mato, o tio disse: “Ê Sultão, será que vou ter que te arranjar sapato, pra você andar no mato?”.

Outra vez, Noé não encontrou Zimerman e não disse: “Rapaz, eu não sou alcoólatra, o mundo de fato esteve perdido e eu fiquei é enjoado com o balanço do mar”. Eu torci por esse encontro, essa semana. Fora isso, melhor que Caim não fique sabendo de seu caráter sádico-destrutivo. Seria trágico. Para o Zimerman. Na catequese, quando catecúmeno pela segunda vez estava, ouvi dizer a catequista: “O único pecado imperdoável para Deus, é a descrença ou zombaria do sagrado Espírito Santo”. Respirei aliviado. O forró da noite passada não havia carimbado meu passaporte para o inferno. Muito menos para o céu.

Mais de uma vez, li na Folha de SP, declarações de um senhor chamado Vânio Aguiar. Sabe qual a sua ocupação remunerada? Diretor da massa falida do Banco Santos. Uma beleza de emprego, mas nada original. Ora, estou vivo a vinte e um anos, isso é que é demonstração de habilidade em dirigir massa falida. No meu currículo vou colocar “Experiência em direção de massa falida”. O duro é se pedirem recomendação. Quem viu garante que a massa não cresceu, e mais: “Nossa, quem abriu a tampa do forno? Agora a massa murchou!”. Há quem diga, ainda, que massa falida mesmo, é a do Fluminense.

Vez ou outra, em um desses “buracos de rato” que nos metemos noite adentro, ouvi uma conversa estranha, quando fui
comprar uma água no bar. Claro, no bar não ouviria alguém comentando a tradução dos fragmentos de Parmênides, isso seria espantoso, a ponto de chamar um pastor e três chefes católicos. O diálogo era entre duas simpáticas senhoritas, igualmente marinadas no uísque por uma noite, como a carne recheada da minha mãe. Dizia, a mais alterada: “Nós inauguramos a primeira profissão do mundo. Louvai todos, a fornicação remunerada!”. Mesmo aplaudida por um maníaco na outra ponta do balcão, não pude deixar de observar: “Não seria a primeira profissão, a mais antiga de todas, o paisagismo? ”.O lugar já estava desanimado, mais triste que zona sem música. Depois disso, mais vazio que banheiro de necrotério.

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

A receita perfeita

E lá vamos, nós!


(Fim do primeiro jogo da final, foto de Marcelo Pereira)

Primeiro: Acenda a churrasqueira e deixe o carvão em brasa.




(Fernando Carvalho, pobre diabo travestido de vice-presidente do Internacional)

Segundo: Tempere com um pouco de sal grosso, mas não perca a medida, muito menos o bom senso.




(Antes mesmo de consumado, o destino era sabidamente trágico.)

Terceiro: Coloque a carne no fogo e deixe-a "pingar" um bocado.



(Nota-se, em detalhe, a carne sendo "amaciada". Foto de Ricardo Rimoli)

Quarto: Dê leves batidas. Esse processo, apesar de parecer doloroso, melhora o sabor do churrasco.



(Foto de Ari Ferreira )

Quinto: Parabéns! Você seguiu todos os passos com sucesso. Agora, desfrute do saboroso churrasco gaúcho!


Ps: Contudo, não se esqueçam de adquirir, queridos fregueses, as imagens do empolgante dia que tivemos juntos!



!Fim!

sábado, 27 de junho de 2009

O espirro da mula

A mais de duas semanas não escrevo nada. E como sei que escrever é treino, muito mais que talento, esse texto vai “na marra”, sem uma gota de lubrificante. Não estranhem se descer suave, como um gato vivo na garganta.

Eu estou morando, agora, em um apartamento para lá de desconfortável. Para ajeitar as coisas por aqui, se é que isso é possível, nós vamos mudando as coisas de lugar. Uma hora o sofá está aqui, outra no quarto de alguém, depois a geladeira vai dançando tango de uma parede para a outra, acompanhada do fogão, ironicamente, um modelo Bossa Nova. Faz jus ao seu nome; fogo lento, um tempo de jogo para fritar cada lado de um bife. Na próxima, compramos um modelo Baião ou Xaxado, no mínimo. E mudamos para uma casa normal, onde nunca mais seja necessário jogar xadrez com os móveis.

Mas esse não é um tópico Casas Bahia. Esse é um tópico mal-humorado e sem o menor otimismo. A não ser pela Influenza H1N1, fazendo reboliço no campus. Hahahá, agora sinto-me incluído, personagem ativo nos programas de proteção nacional. Bacana, não? E como. Não sou neurótico por segurança, mas moro em um lugar tão violento, que se acontecer um barulho perto de você, não é uma anjo chegando para receber suas orações e levá-las a Deus. É ladrão mesmo. Agora, é só aproveitar a onda de atenção e carinho.

Esse vírus é um sujeito bacana, já chegou dando férias antecipadas. Tem gente fingindo febre, simulando dores no corpo e com tosse só de falar na volta às aulas. Preguiça é mais contagiante que gripe, pode apostar. Essa pandemia veio é do Céu. Estrategicamente no final de Junho, no melhor estilo “pula fogueira ia-iá”, recebeu mais prece que São João, São José e Santo Antônio juntos. Melhor que casar, é ficar de molho em casa, só assistindo sessão da tarde com pipoca e refrigerante. Incubando ócio. Mas não vou idolatrar isso não. Prefiro é faltar às aulas por vontade própria, alimentando assim, meu lado transgressor. Esse é um post aborrecido e não abro mão. O único lugar descontaminado vai ser o CCH, porque nem vírus aguenta, hahahá.

E tenho a maior fé que depois das férias eu vou melhorar meu ânimo. Depois de descobrir, sem querer, o milagre da mula, resolvi reconsiderar meus conceitos. Vocês conhecem o milagre? Lá, vai. Em uma tarde quente de Janeiro (isso eu inventei), Santo Antônio pregava para uma multidão de fiéis, imagino eu, quando repentinamente surge a figura de um infiel. O incrédulo, desafiou a santidade do corpo de Cristo encarnado na hóstia e, furiosamente (disseram para mim), travou uma aposta com Antônio, dizendo: Se isto for o alimento da alma, o corpo de Cristo, qualquer ser vivente pode reconhecê-lo como tal, então, trago amanhã minha mula para apreciar tal graça. A platéia silenciou, todos se entreolharam, aflitos com as consequências do discurso. Mas Antônio, com aquela calma que só o desespero traz, estendeu a mão para o homem, selando assim a aposta. Não se falava sobre mais nada na cidade, além da “peleja da mula com Antônio”. Na manhã do outro dia, Antônio, que de santo ainda não tinha nada, foi para a praça, esperar seu algoz. Eis que vinte minutos depois, sob fortes vaias, aparece o homem e sua mula. Antônio, encara, a mula. Ela, não diz nada. Começa a celebração.

Logo depois da oferta (rateio das apostas, na ocasião), Antônio inicia o ritual supremo da Igreja, e vira-se especialmente na direção da mula. Ela, comovida (fiquei sabendo), dobrou o joelho das duas patas dianteiras e abaixou a cabeça em respeito a hóstia consagrada. A platéia foi ao delírio, e o homem pasmado, caiu em prantos, louvando o senhor nas alturas.

Como não sou moco, melhor assim, ouvi toda a história calado, sem reclamar ou desacreditar. Afinal, o homem desafiou o poder de Deus e o que obteve em troca? Arrependimento, vergonha, uma mula constrangida por seu dono e, com dores nas juntas. O que aprendi? Depois da primeira mula ajoelhada, o resto foi atrás. Hahahá, esse é um post cretino e eu tinha advertido desde o início. Nada de colocar meu nome na boca do sapo.

Quero ver é encontrar o corpo do Ulisses Guimarães, o Sarney abandonar o cargo, o Irã ter liberdade de expressão garantida pela constituição e o Minc parar de achincalhar os latifundiários. No Brasil, fazer mula ficar de joelho é fácil. Não duvido que já tem mula de joelhos por ato secreto. Quero ver é me animar para escrever meu TCC. Agora, reconstituir amputado, saiu da minha lista de milagres impossíveis. O Simão conseguiu. Provas? Assistam “Simão Do Deserto” do Buñuel. O R. R. Soares assistiu. Ficou enciumado, esse milagre ainda não fez, ficou mordido de inveja. Hahahá. Simão 1 x 0 R. R. Soares.

O que nos resta? Esperar segunda-feira e torcer para a vitória do vírus. Minhas férias antecipadas serão altamente “influenziadas” por ele . No mais, estou indo embora.

Ps: O texto foi editado por que eu troquei Antônio por João, algumas vezes, no "causo" da mula. Castigo? Nada, desatenção mesmo. Desculpa o trantorno.