"Mas tenho alguma esperança considerando que nem sempre as vistas largas são as mais claras, e que um míope, obrigado a colocar o objeto mais perto, pode talvez por um exame próximo descobrir o que não viram melhores olhos" (George Berkeley)
Estava com título e texto prontos quando descobri, tardiamente, uma senhora chamada Ayn Rand. Então, adiei as piadas e comentários ginasianos para postar uma entrevista de fazer perder o sono. Como posso convencê-los a assistir as três partes? Abaixo, trechos da primeira parte da conversa. Abraço.
Mike Wallace: "...a resenha diz que você pretende destruir praticamente todas as bases do "American way of life" contemporâneo, nossa religiosidade judaico cristã, nosso capitalismo regulado pelo Estado, o fato de sermos governados pela vontade da maioria. Outras resenhas declaram que você debocha da igreja e do conceito de Deus. Essas declarações são corretas?
Ayn Rand: Sim. Eu concordo com os fatos, mas não com o julgamento dessas declarações. Se de fato questiono as bases dessas instituições, é porque questiono a moral altruísta, o pressuposto de que o dever moral do homem é viver pelos outros, sacrificar a si mesmo pelos outros - o que representa a moral vigente atualmente.
Mike Wallace: O que você quer dizer com "sacrificar a si mesmo"?... Você diz não gostar do altruísmo segundo o qual nós vivemos. Você prefere um tipo de egoísmo "randista"...
Ayn Rand: Dizer que eu não gosto é muito pouco. Para mim isso é perverso. E o auto-sacrifício é um conceito segundo o qual o homem deve servir aos outros para justificar sua existência, e que isso é seu dever moral. É nisso que a maioria das pessoas acredita atualmente.
Mike Wallace: Mas é claro, aprendemos a nos preocupar com nossos semelhantes, nós nos sentimos responsáveis por seu bem estar, e sentimos que, como dizem os religiosos, filhos de Deus e responsáveis uns pelos outros. Por que se rebela? O que há de errado com essa filosofia?
Ayn Rand: Mas é exatamente isso que faz com que o homem sacrifique a si mesmo, a noção de que ele precisa trabalhar pelos outros, preocupar-se com os outros e ser responsável por eles. Esse é o papel de um objeto sacrificial. Eu digo que todo homem tem direito a sua própria felicidade. E que ele deve conquistá-la sozinho. Mas ele não pode exigir que os outros abram mão de suas vidas para fazê-lo feliz. E ele nem deve querer sacrificar a si mesmo pela felicidade alheia. Eu defendo que o homem deve ter autoestima.
Mike Wallace: E ele não pode ter autoestima e também amar seu semelhante? O que há de errado em amar seu semelhante? (...)
Ayn Rand: É imoral se colocado antes do amor por si mesmo. Mais que imoral é impossível. Pois amar a todos indiscriminadamente, significa amar as pessoas sem qualquer critério, amá-las mesmo que elas não tenham qualquer valor ou virtude. Significa amar a ninguém. _____________________________________________________________________
Ps: Mal posso esperar para que o meu "A Revolta De Atlas" chegue. A entrevista legendada encontrei no site da editora Sextante.